A noiva cadáver

Recentemente, assisti o filme A Noiva Cadáver do diretor Tim Burton. Uma animação gótica, feita na técnica stop-motion (quadro a quadro), que demorou dez anos para ser desenvolvida da forma idealizada pelo diretor.
Inspirado em uma lenda russa do século XIX, A Noiva Cadavér é um filme tão delicado quanto a feitura de seus personagens. O filme conta a história de Victor, um jovem que ensaiando seus votos de casamento em meio a uma floresta, coloca a aliança no que parece ser um galho. Para sua surpresa, "o galho" é na verdade, a mão da noiva cadáver que assassinada antes do próprio casamento, foi enterrada na floresta e lá esperava pelo homem que a tiraria da solidão no mundo dos mortos e se casaria com ela. A noiva nos comove com seu sofrimento por amar e não ser amada.
Mas o que de fato chama a atenção no filme é a forma como vida e morte são tratadas na história. Interessante ver como o mundo dos vivos é morto, e o quanto há vida no mundo dos mortos. O mundo dos vivos é sombrio e triste. Já o mundo dos mortos é colorido e cheio de alegria. A trilha sonora do filme é perfeita! E fortalece as cores do submundo, visto as músicas mais animadas são desenvolvidas "em baixo da terra".
Nesse filme, a vida parece insignificante. Isso fica claro na cena em que a noiva cadáver se lamenta por estar morta e diz aos dois amigos (a aranha e o verme) que Victor prefere Victoria (sua verdadeira noiva) justamente porque esta tem pulso e ar nos pulmões. Mas seus amigos respondem que isto não é importante: " E daí? Dispensável! Trivial!" E mais a frente, complementam:
" A única finura daquela criatura é viva estar!
Dispensável! Trivial!
Já sabemos que isso é algo substancial,
Que se acaba de repente sem nenhum sinal."

De fato, a vida se acaba! E esta fala deles nos parece dizer que só vamos saber que a vida não é tudo quando já estivermos mortos. Claro que o filme não quer nos dizer que a vida começa após a morte (e quem sabe não começa, né? só quem já morreu sabe, mas ninguém voltou pra contar! E eu sinceramente não quero que nenhum morto-vivo me apareça pra contar! ehehehe). Mas a trama mostra que a vida pode ser tão fria e vazia quanto a própria escuridão, deixando assim de ser vida!
A morte em A Noiva Cadáver não é triste! A chegada de um novo morto é motivo de festa. E o novato diz que se sente ÓTIMO! Ou seja, a morte realmente parece ser um alívio. Vida e morte se confundem quando os mortos vão para a superfície. Depois do susto dos vivos, a alegria de rever os entes que há anos partiram para o "outro lado", acreditamos que vida parece ter mais sentido quando estamos junto de quem amamos.
Mas a morte é para todos. É inescapável! É o que dizem os esqueletos - melhor representação do adeus à vida. Dançando e cantando como se zombassem dos vivos, as caveiras alertam:
"Vai, vai chegar sua vez
A morte virá, não importa o freguês.
Você pode até se esconder e rezar
Mas do funeral não irá escapar."

Viver é preciso sim! Viver esta vida intensamente! Nossa única certeza é que a morte virá um dia, e o que nos agurda depois dela, só morrendo pra saber... mas não há pressa!

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