Caipirice no cinema
Neste fim de semana assisti o filme Tapete Vermelho (2006), dirigido por Luiz Alberto Pereira, e o roteiro não me pareceu lá essas coisas. Confesso que saber da presença de Matheus Nachtergaele no elenco, me fez esperar muito mais da película.
O que mais me incomodou foi o exagero na caracterização dos personagens. Quinzinho (Nachtergaele) é caipira demais. Parece coisa de piada de mau gosto, contada só para menosprezar os considerados "jecas".
Mas este texto não é bem para expressar as minhas críticas ao filme. E quem já o assistiu e discorda do que falei, ÓTIMO! Eu não gosto mesmo de ter sempre a razão! Preciso que os "do contra" existam para que eu possa exercitar o meu poder de argumentação, né?
Então vamos ao que realmente me fez atualizar este blog hoje. É o seguinte: o que muito me chamou a atenção no Quinzinho foi uma leve semelhança com o Zé-do-Burro - interpretado por Leonardo Villar em O Pagador de Promessas, 1962 -, em sua forma de falar. Um jeito calmo e doce de dizer o que se passa em sua mente e coração ingênuo.
Não nego que Zé-do-Burro é um de meus personagens preferidos. E Quinzinho me fez lembrar muito dele e encontrar nas duas obras (Tapete Vermelho e O Pagador de Promessas), algumas coisas em comum que citarei abaixo:
1) Assim como Zé-do-Burro, Quinzinho é um pagador de promessa. A diferença, é que Zé fez promessa a Iansã para que seu burro Nicolau ficasse curado. Já Quinzinho, prometeu ao pai que levaria o filho para assistir a um filme de Mazzaropi assim que o garoto completasse a idade certa para apreciar o comediante;
2) Ambos vivem da roça, de onde tiram o sustento de suas famílias;
3) Zé e Quinzinho são casados e carregam suas mulheres consigo para pagarem suas promessas junto deles. Zé não tem filhos e não obriga sua esposa Rosa (Glória Menezes) a seguir viagem com ele. Esta o segue por livre e espontânea vontade, embora se arrependa depois e o culpe pelos incômodos que ela passa. Já Quinzinho, não permite que Zulmira (Gorete Milagres) fique em casa. A mulher parte com o marido e o filho, praticamente obrigada mas não reclama como Rosa. Zulmira demonstra seu desagrado com a aventura, mas é submissa e não culpa o marido nem pela perda do filho na cidade grande;
4) O burro também é um ponto comum entre os dois roceiros. Quinzinho carrega suas malas e pertences no lombo do burro Policarpo, roubado no meio do filme. Enquanto Zé inicia sua jornada por conta de seu burro Nicolau, que nem aparece no filme;
5) Tanto Quinzinho quanto Zé-do-Burro são impedidos de pagarem suas promessas. Os dois então, resolvem vencer seus obstáculos se colocando em frente ao local onde pagariam o prometido. O primeiro se acorrentando na porta do cinema. O segundo sentando nas escadarias da igreja ao lado de sua cruz, dizendo que não comerá nada enquanto não pagar sua promessa.
6) Suas atitudes os tornam focos da mídia. Zé é vítima de sensacionalismo e não sabe lidar com a imprensa, visto que só a enxerga como inimiga. Já Quinzinho, grita a plenos pulmões o motivo de estar ali. Entre xingamentos, ele expõe sua revolta ao dizer que naquele cinema só passa "bosta" de filme e não passa nenhum filme de Mazzaropi, acrescentando que ali nem sabem quem é Mazzaropi (Achei esta cena legal, porque me parece querer nos mostrar que não conhecemos o cinema brasileiro...);
7) Por fim, ambos conseguem entrar nos locais onde pagariam suas promessas. No entanto, Zé-do-Burro é carregado morto em sua cruz, para dentro da igreja. Enquanto Quinzinho entra no cinema caminhando sobre um tapete vermelho.
Bom! E a conclusão de tudo isso? Sei lá! Mas acho que posso dizer, que embora o roteiro de Tapete Vermelho não seja um dos melhores que eu já vi, e mesmo com todo o exagero nas características de jeca - que a princípio pensei que fosse para homenagear o personagem de Mazzaropi, mas depois quando vi uma cena de um dos filmes do comediante, vi que o Jeca Tatu do Mazzaropi era menos jeca que o caipira de Nachtergaele. - , ainda assim, deixou clara a beleza da ingenuidade e do coração sem maldade...
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