Três Marias

Este ano, quero prestar homenagem às mães, apresentando a vocês três mulheres pelas quais nutro profunda admiração e cujas histórias são verdadeiras lições de vida para mim.

MARIA DE JESUS – A mulher

Pelo que sei desta senhora, ela praticamente nunca foi criança. Filha mais velha de agricultores, teve a magia da infância roubada pela responsabilidade de ajudar os pais na roça para alimentar seus irmãos menores, além de muito labutar em casa, visto que era a única filha mulher da família. Para se libertar de tão pesado fardo, Jesus uniu-se a um rapaz 19 anos mais velho que ela, e aos doze anos de idade tornou-se uma mulher. Até onde sei a jovem não foi infeliz em seu casamento, embora não tenha sido bem aceita no princípio pelos sogros, uma vez que seu esposo vinha de uma família de posses, enquanto ela era muito pobre. Mas isso logo foi harmonizado com a chegada do primeiro filho.

Maria de Jesus teve 21 filhos, dos quais 12 sobreviveram. E mesmo contribuindo com sua parcela de novas “vidas no mundo”, teve sua própria vida ceifada no parto de seu caçula. Que coisa... Uma mulher de 36 anos que pariu a maior parte de seus filhos em casa, faleceu em um hospital, cercada por quatro médicos que não puderam fazer nada para impedir sua partida. Dizem, que mulheres que morrem no parto vão direto para o céu. Mas me parece que ela era jovem demais para gozar da vida eterna...

Jesus não foi uma mãe muito carinhosa – embora nunca tenha maltratado nenhum de seus filhos -, mas soube cumprir fielmente, o papel que deveria ser exercido em sua época: era uma mulher! E como tal, amou, se entregou e gerou vida!

Eu a admiro não apenas pela coragem de saltar para a fase adulta tão de repente, mas também pela coragem de enfrentar 21 vezes a dor que faz muitas mulheres hoje em dia, desistirem de ser mãe. Pois se é verdade que a verdadeira mãe é aquela que sente a dor do parto, Jesus foi uma grande mãe, pois mais que a dor de pôr um filho no mundo, ela agüentou e enfrentou a dor da certeza de que não veria suas crianças crescerem.

FRANCISCA MARIA – A guerreira

Aos 15 anos, esta jovem recebeu uma difícil missão. Embora tivesse duas irmãs mais velhas, foi ela, a escolhida pela mãe – quando esta percebeu que iria partir -, para que cuidasse de seus nove irmãos mais novos. E assim, Tita – como também é carinhosamente chamada – ajudou o pai a criar os pequeninos.

Mas como todos crescem e dão rumo à própria vida, Tita também seguiu seu destino. Casou-se, foi embora para uma cidade grande e teve três filhas. Porém, sua vida não foi nada fácil. Perdeu o marido e teve que criar sozinha, suas três crianças. Sem ajuda de ninguém, ela trabalhou e se sacrificou por muito tempo para conseguir o pão de cada dia. Nem as feridas nos pés, causadas pelos clips de papel que prendiam as correias de suas sandálias velhas, lhe impediam de continuar lutando por dias melhores. Mesmo conseguindo pouco, ela ainda dava um jeito de ajudar os parentes que precisassem de alguma coisa. Tita nunca abandonou qualquer um de seus irmãos. Até hoje, cumpre a promessa feita à mãe de zelar por eles.

E por ter um coração tão grande, aos poucos a vida começou a lhe sorrir e colorir seu horizonte. Depois de vencer muitos obstáculos, ela conseguiu chegar ao topo da montanha. Como grande guerreira que é, alcançou a vitória tão merecida.

Francisca é uma super-mulher, e logo, uma super-mãe!!! Não é mãe só de suas filhas, é mãe de seus netos, de seus irmãos, é avó de seus sobrinhos, quem sabe até, mãe dos pacientes que ela cuidou e cuida, visto que é enfermeira! É dona de uma personalidade forte! É aquela mãe que lhe dá conselhos e com sua imensa sabedoria diz o que você precisa ouvir. Ela é admirável, pela garra, pela força, caráter e coração. Alguém que merece todo o respeito. Uma mãe que é pau pra toda obra!

MARIA DE FÁTIMA – A humana

Uma das mais novas entre os 12 irmãos, a Fátima sempre foi a preocupação do pai, visto que sempre foi magrinha demais, impaciente e valente. Nunca foi de levar desaforo para casa. E embora a vida sempre lhe tenha dado umas tapas, ela nunca se deixou abater. Pelo contrário, a Fátima revida com “gosto de gás”! Por mais que seu físico demonstre fragilidade, a Fátima, não é brinquedo não!

Casou-se aos 25 anos e um ano depois teve sua primeira filha. No ínicio, tudo é bom demais. A Fátima era bem feliz pessoal e financeiramente. Mas infelizmente, a vida não é apenas sorrisos...

Com a chegada de seu terceiro filho, a “roda da fortuna” virou e as coisas se tornaram bem difíceis. Mudou-se de cidade, chegou um quarto filho, o marido já não ganhava mais o mesmo salário e a vida de princesa acabou. Mas a Fátima não se deu por vencida e entrou na guerra com a cara e a coragem. Junto com o marido, criou os quatro filhos com muito sacrifício, mas nunca pensou em desistir da luta.

E por mais que ela se disfarce de “siri na lata”, na verdade, não passa de um coração de manteiga. Faz tudo que tiver ao seu alcance para ajudar qualquer um que precisar. E mesmo sendo mal retribuída, recebendo ingratidão como pagamento de sua generosidade, a Fátima nunca aprende a lição. Ela comete os mesmos erros, porque seu coração não consegue dizer NÃO a quem precisa.

Ela é uma mãe exemplar! Fez e faz das tripas coração para transformar seus 4 filhos em vencedores! Embora não fique distribuindo beijos e abraços, ela ama incondicionalmente. Fátima ama tanto que sufoca, que amedronta, que faz vergonha! Ela não permite que ninguém olhe feio para um filho seu, que logo pergunta o que foi, o que quer, se vai tirar foto, enfim, por um filho seu, a Fátima é capaz de devorar um leão! Nada é por mal, tudo é por amor!!!

Sempre diz que filhos só dão valor a mãe quando a perde. E ela sabe disso muito bem, pois aprendeu esta lição aos doze anos de idade.

Fátima é muito transparente. Não esconde de ninguém o que se passa em seu íntimo. Quem a ferir, sabe que a feriu porque ela demonstra a dor que sente. Fátima quando se cansa das peças que a vida lhe prega, protesta em alto e bom som! E quando não agüenta a fadiga, se derrete em lágrimas! Ela é linda! É batalhadora! É verdadeiramente humana, justamente porque vive toda a complexidade do ser humano!!! Mais que minha admiração e respeito, ela tem meu amor e gratidão!!!

O QUE TODAS ESTAS MULHERES TÊM EM COMUM???

Além do nome Maria, do gênero, da maternidade e garra, elas são unidas pelo sangue!!! Isso mesmo! Maria de Fátima e Francisca Maria são irmãs, filhas de Maria de Jesus! As três fazem parte de minha vida e são meus maiores exemplos femininos! A Fátima é minha mãe. A Francisca é a minha vovó Tita, a avó materna que escolhi, visto que não tive a alegria de conhecer a vovó Jesus!

Todas possuem as mesmas características que toda mãe de verdade deve ter! As três mães que são destaque para mim, estão aqui hoje representando o “ser mãe” no seu sentido mais amplo!!!

Porque a meu ver, MÃE é aquela mulher que escolhe seu caminho, enfrenta o mundo e luta até o fim, com o único propósito de proteger os filhos, sem esperar recompensa, mas simplesmente por amar da forma mais pura!!!

A todas estas mulheres, eu desejo UM FELIZ DIA DAS MÃES!!!