Carta ao amigo

João Pessoa, 13 de dezembro de 2009.

Meu digníssimo e amado amigo,

Cá estou eu, ouvindo as músicas do Raul Seixas que sempre me fazem lembrar de você, pessoa a quem eu mais deixei clara a minha paixão por esse cantor! Eheheh


Canção da América, entoada por Milton Nascimento pode ser o hino da amizade para muitas pessoas, mas me parece que nossa trilha sonora é Meu amigo Pedro, devido a sinceridade nua e crua presente na amizade cantada por Raulzito. Você é um dos poucos amigos de quem eu ouviria um “cale essa boca” sem que eu me enfurecesse e revidasse com poucas e boas. Porque nossa amizade chegou ao nível em que a verdade pode ser dita sem que precisemos pisar em ovos, visto que já conhecemos os pontos fracos um do outro. Já sabemos em que ferida tocar e como tocar, não para fazer doer, mas para fazer crescer!


Para você, eu não tenho vergonha de mostrar o meu pior lado, justamente porque sei que tu irás me apontar os erros e indicar o melhor a fazer. Por mais absurdo o que eu possa dizer ou fazer, por mais feio, vergonhoso que seja, sei que tu serás amigo o suficiente para tentar entender e conversar comigo com o intuito de me tornar uma pessoa melhor, de modo que eu não seja ferida por suas palavras, mas pelo meu próprio reconhecimento do erro e assim, amadurecer.

Há muitas coisas que eu gostaria de ter dito a você durante esses meses que tu estavas aqui, bem ao lado. Contudo, não pude devido à vida maluca que escolhi. E você, como melhor amigo que é, embora me quisesse por perto e jogar pedras no mar junto comigo, renunciou prontamente esses momentos para me incentivar a continuar trilhando tão árduo caminho que resolvi seguir.

Somente um amigo de verdade é capaz de tal ato. Só um amigo de verdade, que ama e deseja o bem, sabe conter o egoísmo e deixar que o outro voe livre rumo ao horizonte almejado.

Eu queria ser assim, como você...

Livre do egoísmo! Completamente dona da minha vontade a ponto de saber domar meus defeitos, entre eles o meu egoísmo doentio.

Sim! Sou egoísta! Cada dia tenho mais certeza que este meu pecado abrange todos os sentidos.

Não sei por que sou assim. Não vejo motivos para que eu me comporte de tal modo.

Mas notei que com você esse defeito se tornou muito maior! O.O Não é culpa sua. E é! Pois por você ser um amigo tão especial assim, não desejo dividi-lo com mais ninguém. E pior! Sei que não preciso agir dessa maneira, porque sua amizade é sincera e posso contar com ela sempre. Nada, nem ninguém tem força suficiente para abalar esse nosso sentimento, que como eu já disse várias vezes, “é pedra que não gasta”!

Porém, sou suficientemente sincera a ponto de assumir minha insegurança e fraqueza. O que considero meu, que amo e cuido, eu só mostro aos outros, mas não desejo dividir com ninguém!

Desculpe... não é por mal!

Será que estou agindo assim por carência? Mas eu não tenho motivos para isso! Eu sempre fui muito amada, porque cresci cercada de mostras de carinho e afeto! Não me sinto só e nunca precisei me esforçar para conquistar as amizades que eu tenho. Pelo contrário, tem gente que passou por maus bocados antes de ser “premiado” com a minha amizade sincera.

Não estou querendo “me achar”! Você sabe! Me conheces bem a ponto de saber quando falo sério e quando me deixo levar pelo meu egocentrismo! O fato é que quando digo que sou amiga de alguém é porque sou mesmo! No entanto, eu jamais deixarei de ser o que sou para agradar qualquer amigo. Se eu tiver de ser ríspida, eu serei. Quem for meu amigo de verdade, vai saber lidar com isso. E se por acaso não conseguir, chegará a mim e dirá: “Roberta! Por que você fez isso? Me magoou...” e eu pedirei desculpas, me envergonharei e evitarei cometer o mesmo erro. Entretanto, se alguém fizer qualquer coisa que abale esse meu sentimento, o perderá... para sempre! E confesso, não é nada fácil ser meu amigo...

Algo me diz que nossa amizade é de fato, uma rocha! Acredito ser inabalável. E farei de tudo, para jamais te magoar, te decepcionar. Uma vez me disseram que quem mais amamos é quem mais nos decepciona. Isso ocorre, porque sempre criamos muitas expectativas a respeito desse ser tão amado e qualquer falha dele, é motivo para uma grande decepção. Por isso, tenho medo de te magoar e por ter tanto medo, acabo fazendo besteiras, agindo com infantilidade.

Imagino que dessa vez, você conheceu Robertas nunca vistas antes: a ciumenta, a possessiva, a egoísta, a ríspida, a rancorosa, a infatil! Sou essas Robertas todas e muitas outras mais... infelizmente.

Por isso, te peço perdão. Perdão por isso e qualquer coisa que reste...

Sou suspeita para falar de mim, mas a maior parte de meus pecados é cometida pelo excesso. Ausento-me pelo excesso de responsabilidade; chateio pelo excesso de sinceridade; irrito pelo excesso de preocupação; e pelo excesso de afeto, que teimo em querer disfarçar na maioria das vezes, peco das mais variadas formas, chegando ao cúmulo de ferir... e não é por maldade.

Você deve estar se perguntando por que estou dizendo essas coisas. Também não sei dizer direito, porém, imagino que você vai entender e quem sabe até, me explicar! É sempre assim! Eu não sei o que digo, o que faço, o que quero... te falo tudo e depois você me diz num sorriso: “Oxe, peste! Tu já tem a resposta!” – e depois vejo que você estava certo.

Enfim, você está indo embora de novo e fico aqui com esse ar de culpa por não ter te dado a atenção que mereces. No entanto, o fato de não nos despedirmos direito, como eu já te disse, nos deixa com a sensação de que o intervalo entre tua ida e tua volta, será bem pequeno, porque, na verdade, não houve despedidas. E não haverá! Pois despedir-se significa, a meu ver, o fim. E

este, com certeza, não estará presente no enredo de nossa amizade...

Obrigada por tudo! Obrigada por ser meu melhor amigo!

Obrigada, principalmente, por me escolher como sua melhor amiga!

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O que a gente tem de ser...

De volta ao antigo lar

Dívida bem paga!