Saudades de meu velho herói...

Guardo, com saudade, algumas lembranças...

São aquelas daquele tempo em que eu te via grande!

Do tempo em que você me enrolava na sua manta, enquanto a dobrava assim que levantava da cama.

De quando eu fingia dormir no sofá, só para você me carregar no colo.

Das vezes que você me deixava pentear os seus cabelos enquanto eu brincava de cabeleireira.

Do dia em que eu gritei pela casa: “MEU PAI É UM HERÓI!”, logo após você matar um ratinho.

Dos sábados pela manhã, que eu ia contigo para o centro da cidade e ao encontrar os seus amigos, você me apresentava como a sua "moça", quando eu, na verdade, não passava de meus 8, 9 anos. Você se mostrava tão orgulhoso da filha... Orgulho esse que eu também esboçava ao deixar meus colegas na mão enquanto brincávamos na rua, só para correr ao teu encontro quando voltavas do trabalho. Eu me “enchi de pernas” no dia em que um de nossos vizinhos me disse que queria ter um pai igual ao meu...

Lembro com saudade dos dias de resultados das minhas provas na escola e eu contava as horas para você chegar em casa, só para te dizer que tinha tirado nota dez em tudo. E o que você fazia? Ahhhhhhh você imitava o resultado das escolas de samba e dizia: “Geografia. Nota DEEEEEEEEZ. Matemática. Nota DEEEEEEEEZ. Língua Portuguêsa. Nota DEEEEEEEEEEZ...” - e assim por diante. Eheheh

Ai ai... Sinto muita falta disso.

Que saudade de quando você me ensinou a andar de bicicleta e todos os fins de semana pela manhã, você me levava para passear pelo bairro. Você caminhando e eu pedalando a sua frente. Sempre que chegávamos a uma encruzilhada, você assobiava, eu olhava para trás bem rápido e te via sinalizando a direção que eu deveria tomar. Lembra daquela vez que eu perdi o controle da bicicleta em uma ladeira e enquanto eu gritava, você corria atrás de mim? Aí você me alcançou e segurou a garupa da bicicleta, faltando menos de um palmo para eu me “estourar” numa cerca de arame farpado. Sem falar na sorte que tivemos de não estar passando nenhum carro na hora em que atravessei a rua, logo no finalzinho da tal ladeira. Você foi meu herói mais uma vez naquele momento.

E essa lembrança me traz outra. É aquela de uma noite em que estávamos na rua e eu com muito medo, quase te implorava para caminharmos mais rápido porque “andar à noite faz medo”. Você, num tom meio sentido me questionou: “Minha ‘ fia’ não confia em painho não? Painho nunca deixaria nada acontecer com você!”– fiquei tão envergonhada... óò Como eu pude duvidar de sua proteção?!

É pai! Sinto falta de todos esses instantes e muitos outros que me fariam escrever páginas e mais páginas só de bons e saudosos momentos. Pena que me tornei adulta e deixei que minha natureza fria se desenvolvesse por completo. Se eu não fosse assim, não tivesse essa personalidade tão dura, provavelmente eu esqueceria os momentos ruins, apagaria as mágoas, te tratava com o carinho e gratidão que você merece, pois eu reconheceria que todo ser humano, falha!

Tenho mania de dizer que você mesmo destruiu a imagem de herói que eu e meus irmãos tínhamos de você. Mas, na verdade, esse meu pensamento é um erro! Afinal, o que são os heróis, se não humanos?

Por isso que te digo hoje: Obrigada por tudo, meu herói! Sim! Você não é o meu herói de antes, porque hoje eu te enxergo com outros olhos e vejo o heroísmo como algo bem diferente do que via na infância. E é esse novo olhar que me faz reconhecer tuas qualidades de um “pai herói”!

Apesar de tudo que aconteceu nas nossas vidas nos últimos tempos, quero que tenhas a certeza que EU TE AMO, pai! E já sofro, antecipadamente, a saudade que terei de ti num futuro, que espero, demore muito, muito a chegar....

Feliz Dia dos Pais, painho!